6 de out. de 2012

Precificando a formação

De acordo com a nova redação dada a Lei Pelé pela Lei Federal Nº 12.395/2011 Art. 29 §§ 2º e 3º, caracteriza como entidade de prática desportiva formadora - clube formador - do atleta aquela que fornece a seus atletas programas de treinamento nas categorias de base e complementação educacional e satisfaça, cumulativamente, os seguintes requisitos:
 
  • Ter seus atletas em formação inscritos em uma entidade regional de administração do desporto - federação estadual a pelo menos um ano e que estejam também inscritos em competições oficiais; 
  • garantir assistência educacional, psicológica, médica e odontológica, assim como alimentação, transporte e convivência familiar; 
  • manter alojamento e instalações desportivas adequadas, sobretudo quanto a higiene, segurança e salubridade; 
  • manter um corpo de profissionais especializados em formação tecnico-desportiva; 
  • manter agenda diária de seus atletas ajustando tempo necessário à efetiva atividade de formação de modo a não exceder quatro horas diárias, aos horários do currículo escolar ou de curso profissionalizante, além de propiciar-lhes matrícula escolar com exigência de frequência e satisfatório aproveitamento; 
  • estarem seus atleta isentos de qualquer expensas decorrentes das atividades de formação desportiva; 
  • comprovar que participa anualmente de competições organizadas por entidade de administração do desporto em pelo menos duas categorias da respectiva modalidade; 
  • e garantir que o período de seleção não coincida com os horários escolares; além de receber da entidade nacional de administração do desporto certificado que garante o cumprimento do quesitos supracitados e estabelecidos pela devida lei. 

Então quais seriam os custos?

Uma vez certificado como clube formador, atendendo todos os quesitos estabelecidos por lei e comprovados junto a CBF, cabe realizar a apuração das despesas afim de que se possa estabelecer o controle dos custos da formação de atletas, e entender quais despesas estão diretamente envolvidas as atividades - custo direto ou variáveis, e quais são aquelas que não decorrem e independem das atividades de formação - custo indireto ou fixo.

Ao observarmos os quesitos necessários e que qualificam o clube como formador, podemos entender como custo direto ou variável aqueles relacionados ao treinamento desportivo:
  • Gastos na contratação e manutenção de profissionais técnico-desportivos especializados desde o almoxafire até o gerente responsável pelas categorias de base, passando pelos profissionais de comissão técnica, corpo médico-psico-social, pessoal técnico-administrativo e gatering - alimentação; 
  • aquisição de equipamentos, material desportivos, médicos e fisioterápicos, bem como, alimentos e suplementação nutricional; 
  • manutenção das instalações esportivas e de hospedagem, garantindo higiene, segurança e salubridade adequadas; 
  • gastos com participações em competições oficiais, mensalidade escolar. 

Já os custos indiretos ou fixos seriam aqueles decorrentes com atividades que não estejam ligadas diretamente a formação de atletas e envolvem o pagamento dos serviços públicos - luz, água, gás, telefone além daqueles realcionados a determinadas prestações de serviço, tais como, segurança e manutenção patrimonial, serviços administrativos diversos, coleta seletiva de lixo, taxas e impostos.


Mas até que ponto é possível determinar o custo unitário de cada jogador de base?

Determinar um custo unitário de cada jogador da base não parece ser algo tão fácil. Uma média simples levando-se em consideração o custo total de formação dividido pelo número de atletas acaba por distorcer o real valor.

Um modo mais aproximado seria estabelecer alguns critérios que levem em consideração a data de entrada do atleta no clube, as taxas relacionadas as competições nas quais ele participou, a quantidade de horas treinadas, o número de jogos no qual esteve relacionado, que jogou, quanto tempo jogou, quantos jogos ficou ausente e quais foram os motivos, no caso de contusão, quanto tempo esteve sob os cuidados do departamento médico, quantas horas esteve sob orientação psicológica ou social e os custos com formação educacional e alimentação diária.

Os índices de cada item seriam calculados levando-se em conta o valor da hora/trabalho dos profissionais envolvidos nas atividades acima, mais o custo médio referente a alimentação e aos custos fixos do centro de treinamento.

Exemplo:
Um atleta X entrou no clube em um dia qualquer, passando por avaliação médica preventiva por um período de duas horas. Almoçou, treinou com a equipe da sua categoria por tres horas, lanchou, foi para escola, ao retornar, jantou e foi dormir.

Como seria feito o cálculo deste dia:
Levando-se em conta que durante a avaliação médica esteve sob os cuidados de um médico (30,00H/T) e um enfermeiro (15,00H/T) e que durante a sessão de treinamento esteve sob os cuidados de um treinador (45,00H/T), um treinador adjunto (30,00H/T), um preparador físico (25,00H/T), um fisioterapeuta (25,00H/T), um almoxarife (10,00H/T). Almoçou, lanchou e jantou a um custo de 10,00 por refeição. O custo por escola/dia é de 15,00, podemos realizar o seguinte cálculo:

Custo/Dia (Atleta X) = 2(Custo Total DM) + 3(Custo Total CT) + Custo Alimentação + Diária Escola

De onde poderemos obter:
Custo/Dia (Atleta X) = (2X45,00)+(3X135,00)+30,00+15,00 
Custo/Dia (Atleta X) = R$540,00

Como se pode observar, também não é tão difícil quantificar o custo unitário de cada jogador, e sim trabalhoso.

Outro aspecto a ser levado em consideração é o rendimento do montante gasto na formação de cada jogador se o mesmo fosse investido em uma aplicação financeira. isto serviria como parâmetro de controle e avaliação quanto a rentabilidade do investimento feito na formação.

Embora o processo de formação seja individualizado, bem como a elaboração do custo de cada atleta, devemos nos lembrar que, nos casos de desportos coletivos, seria necessário acrescentar o custo médio da equipe na categoria na qual o atleta se encontra, no seu custo individual.