27 de jun. de 2012

Quando entidades esportivas perdem o momento

O remo com os irmãos Carvalho, o tênis com Maria Esther Bueno e Guga Kuerten, a equitação com Rodrigo Pessoa, a natação com Djan Madruga, Ricardo Prado, Gustavo Borges e Cesar Cielo, a ginástica artística com Luísa Parente, irmãos Hipólito e Diane dos Santos, o basquete com Hortência, Magic Paula, Marcel e Oscar, a stock car - principal modalidade automobilística no país, o volei de bronze, prata e ouro, o futebol pentacampeão mundial.

Oportunidades perdidas 

Todas as modalidades repletas de projetos esportivos mal explorados ou desenvolvidos pela falta de um olhar mais global e geral por parte de seus gestores, que não entenderam ou não desejaram tornar suas respectivas disciplinas como setores da indústria do esporte e acabaram por perder oportunidades diversas decorrentes da ascensão de seus talentos esportivos, seja individuais ou coletivos, pelo êxito de suas conquistas exaltado pela mídia em geral e comemorado pela população.

Receitas significativas 

Só recentemente, o esporte é visto como um mercado capaz de gerar receitas significativas que vão além da simples exposição de marcas nos uniformes ou da venda de direitos televisivos.

No futebol, devido a seu grande apelo nacional, tal fato torna-se ainda mais evidente, quando clubes reféns de patrocinadores e emissoras de televisão tornam-se, economicamente inviáveis quanto ao sustento e manutenção de suas equipes quando investidores perdem seu interesse comercial.

Um caso de sucesso ou fracasso

Um dos primeiros exemplos de sucesso de parceria entre um clube de futebol e uma empresa foi o caso Palmeiras-Parmalat, quando a empresa buscava um modo de ganhar uma maior participação no mercado de laticínios e derivados.

Seu principal objetivo era crescer rápido. Ao associar-se ao clube, o evidente apelo emocional do futebol junto a comunidade italiana.

Tal parceria revelou ser um sucesso, quando o clube recobrou seu caminho de vitórias e conquistas esportivas nos anos que se seguiram através do aporte financeiro feito pela empresa na aquisição de jogadores, enquanto a empresa aumentava sua participação no mercado de laticínios.

Mas por que o caso é tratado aqui? Não o foi um caso de sucesso? Muito bem elaborado, desenvolvido e executado? Sim e não.

Sim pelo fato já citado acima. Não porque o clube não aproveitou a oportunidade e tratou de fazer o devido “dever de casa” organizando-se de modo a não depender financeiramente da empresa parceira.

Este fato se mostrou mais claro, quando a empresa teve problemas organizacionais e deixou a parceria. Logo, demandas anteriores a parceria tornaram-se evidentes novamente no clube.

Este caso leva a outro ainda mais recente e presente: Fluminense-Unimed.

Mais uma vez o modelo se repete e com um agravo: maior interferência da parceira na gestão do futebol no clube e no fato de não haver preocupação com o desenvolvimento de novas práticas comerciais e busca de novos parceiros comerciais, gerando uma fonte de receita mais substancial.

Pensamento estratégico

A obrigação destas entidades esportivas não está mais somente no suporte logístico a formação e desenvolvimento de seus atletas, mas na elaboração de um pensar estratégico mais amplo onde questões referentes a prospecção de novos negócios, bem como a elaboração de novas propostas de fontes de receita capazes de suprir não só seu grande custo operacional, mas gerar lucro suficiente para o reinvestimento na atividade fim, bem como promover uma certa independência financeira com relação a seus parceiros comerciais e demais atores do mercado esportivo.

Práticas sustentáveis, governança corporativa, transparência contábil devem ser premissas nos novos modelos de gestão a serem adotados.

A interdepartamentalidade na elaboração e execução do planejamento da temporada também. As ações comerciais desenvolvidas pelo marketing devem estar em sintonia com as atividades relacionadas a prática esportiva durante a temporada, e ambas com os objetivos e estratégias da entidade esportiva em questão.

25 de jun. de 2012

Resultado dentro e fora das arenas esportivas

A profissionalização de uma entidade esportiva implica na adoção de modelos capazes de gerir, eficientemente, seus recursos, reduzindo seus custos, maximizando suas receitas, com o objetivo de atingir sua melhor performance esportiva ao longo de sucessivas temporadas.

Para tanto, sua estrutura gerencial deve assemelhar-se daquelas comuns as empresas, sem traços amadorísticos ou paixão exacerbada.

Com competência reconhecida quanto a sua formação e conhecimentos específicos em cada área relacionada direta ou indiretamente as disciplinas esportivas praticadas.

Mas esta não é a realidade da maioria das entidades esportivas no Brasil, seja ela administrativa ou de prática.

No segundo caso, com especial atenção nos clubes de futebol, persiste o amadorismo apaixonado na alta-gestão, levando a tomada de decisão para fora de um processo racional.

Neste contexto, o conflito entre o gestor amador apaixonado e o treinador racional profissional exacerba-se quando resultados da equipe não refletem a espectativa da direção e da torcida.

Em tal cenário, tanto a formação quanto a competência técnica e científica do treinador esportivo ganha relevância fundamental no processo, no que tange a coordenação e a direção das atividades pertinentes ao andamento da equipe durante a temporada.

Sua decisões, quanto a seleção de elenco, promoção de jovens talentos, dispensa, renovação e contratação de atletas, bem como o planejamento das atividades a serem realizadas na temporada, vão ao encontro do orçamento e do uso de recursos a serem disponibilizados de modo a se atingir o sucesso esportivo desejado.

Aidar cita em seu artigo que segundo alguns estudos da consultoria inglesa Delloite não existe uma forte relação entre o lucro e a performance em campo, embora outros, citados no mesmo artigo, sugerem que possam existir, ao menos, dois relacionamentos fundamentais que serviriam para ilustrar a equação entre os gastos com salários e o sucesso competitivo, bem como o sucesso competitivo e a geração de receitas, indicando que, no primeiro caso, sua correlação foi bastante significativa evidenciando um funcionamento eficiente do que foi chamado de “mercado por jogadores” onde a despesa com salários e o desempenho competitivo sugere a importância do primeiro nos resultados esportivos na temporada.

Já com relação ao sucesso competitivo a obtenção de receitas, a análise de Szymanski e Kuypers, mencionado por Aidar em seu artigo, demonstrou a relevância deste relacionamento ao explicar a lógica do negócio para clubes de futebol, indicando um “mercado por torcedores”.

Sua explicação fica por conta da diversificação de receitas - TV, patrocínio, marketing, etc. - além da tradicional arrecadação na bilheteria, atentando para o detalhe que apesar do imaginário refletir uma fidelização dos torcedores, existe uma relação volúvel, semelhantes aos jogadores, por ambos serem dirigidos pelo sucesso.

Trazendo para os dias atuais, tal justificativa se mantém fiel ao serem observados os resultados obtidos com a geração de receitas conforme a Delloite Football Money League, onde Real Madrid e Barcelona lideram o topo do ranking somando juntos cerca de 930 milhões de euros.

Destaque para bilheteria, ou seja, a audiência nos estádios, onde o Real Madrid faturou 123,6 milhões de euros, Barcelona 110,7 milhões e Manchester United com 120,3 milhões. Que somada as receitas obtidas com os direitos de televisão, reforçam o sucesso esportivo dos três clubes a época do estudo.

Em outro estudo, demonstra dados históricos sobre receitas de vinte clubes de futebol no Brasil onde nos últimos cinco anos houve um significativo aumento tanto da receita total e quanto dos ganhos sem a transferência de atletas.

Os vinte clubes analisados neste estudo geraram uma receita total de 2,14 bilhões de reais o que representa um aumento de 27% em relação a 2010.

Quando descontadas as receitas obtidas com a transferência de atletas, este valor atingiu 1,8 bilhão de reais com um incremento de 133% frente ao resultado obtido em 2007, identificando o potencial econômico das diversas fontes de receitas dos clubes quando exploradas de modo mais eficiente.

Tais estudos refletem e caracterizaram uma volátil relação entre resultados esportivos, aumentos de receitas e gastos salariais.

Neste cenário, independente qual seja o modelo adotado por uma entidade esportiva, seja corporativo ou associativo, seus resultados esportivos alcançados em temporadas sucessivas revertem, de modo significativo, em fontes de receitas oriundas de novos e melhores acordo comerciais, enquanto um mal resultado imediato pode gerar um decréscimo temporário em virtude do comportamento volúvel do torcedor, decorrente de fator emocional.

Isto comprova que as decisões tomadas pelo treinador ao longo da temporada refletem diretamente no custo e nas receitas da entidade esportiva em questão.

Sua participação em competições com mais visibilidade e alcance com referida obtenção de resultados esportivos expressivos no curto e médio prazos refletem na aquisição de maiores e melhores receitas no longo prazo permitindo o reinvestimento de parte delas em suas equipes esportivas, seja no desenvolvimento de novos e promissores talentos, na melhor remuneração de seus atletas e treinadores proporcionando a manutenção do talento, ou ainda, uma relação mais equilibrada que permita uma melhor negociação de suas propriedades comerciais junto aos demais atores do mercado, gerando uma espiral ascendente vencedora.

Somente com a reunião de uma equipe multidisciplinar, onde a comissão técnica e os departamentos financeiro, jurídico, RH e marketing tenham representantes a fim de deliberar sobre o planejamento das atividades pertinentes a temporada esportiva de modo que haja total integração e interação departamental referente as atividades a ações a serem realizadas, onde tanto os objetivos comerciais e esportivos sejam alcançados.

Deste modo o treinador bem formado e informado poderia adequar seus métodos de trabalho e agir baseado nos parâmetros estabelecidos onde suas atribuições estariam voltadas para performance competitiva da sua equipe visando tanto a formação de novos talentos (redução de custos), quanto a obtenção de resultados esportivos relevantes tanto dentro das arenas esportivas, redundando no aumento significativo de receitas.

Referências:
_____. 2010/11Barcelona regressa ao topo da Europa. Disponível em: http://pt.uefa.com/uefachampionsleague/season=2011/index.html. Data de acesso: 01/06/2012.
_____. Classificação final do campeonato brasileiro série A 2011. Disponível em: http://cbf.com.br/competicoes/campeonato-brasileiro/serie-a/2011. Data de acesso: 01/06/2012.
_____. Clasificación Temporada 2010/11. Liga Nacional Primera Division. disponível em: http://www.rfef.es/index.jsp?nodo=92. Data de acesso: 01/06/2012.
_____. Premiere League 2010/11 Season. Disponível em: http://cde.cerosmedia.com/1J4e26cfd9df8c1624.cde. Data de acesso: 01/06/2012.
_____. Receitas dos Clubes de Futebol do Brasil. Edição 2011. BDO, 2012.
_____. Valor das Marcas dos Clubes de Futebol do Brasil em 2011: prévia do estudo anual da BDO sobre finanças dos clubes. BDO, Maio 2012.
AIDAR, A.C.K. A Transformação do Modelo de Gestão no Futebol. Relatório de Pesquisa Nº16. EAESP/FGV/NPP, 2000.
CUNHA, F. A. Técnico de Futebol: a arte de comandar. Rio de Janeiro: Prestígio, 2010. 198 p.
FARIA, C.E.P. Ciclo do fracasso constante pode ser detido pela espiral vencedora. Disponível em: http://www.universidadedofutebol.com.br/Artigos/2012/03/1,15315,CICLO+DO+FRACASSO+CONSTANTE+PODE+SER+DETIDO+PELA+ESPIRAL+VENCEDORA.aspx?p=4. Data de acesso: 31/05/2012.

4 de jun. de 2012

Garoto carente

O talentoso garoto bom de bola carecia da presença paterna substituída pelo frustrado irmão que realizou seu desejo na carreira do primeiro.

Menino mimado pelas mulheres da família, diga-se mãe e irmã, que não permitiram o crescer amadurecido, permanecendo sempre verde para vida.

O brilho de suas jogadas em campo levou-o a topo do mundo duas vezes e aí, no auge, quando deveria tomar rédeas sobre sua existência, pereceu.

Forçado pelo mimo e pela frustração daqueles que carregava nas costas, não porque não o desejasse, sucumbiu a pressão interna.

Quando esperava suporte, não teve. Quando esperava orientação, equívoco.

Isto nos faz lembrar a origem da maioria dos jogadores de futebol e atletas em geral. Humildes e pobres, pais jogam a responsabilidade da família na necessidade do sucesso do filho, sua fama e dinheiro, invertendo a lógica, passando o filho a sustentá-los.

Algumas destas, mesmo possuindo pouco ou quase nada, mantém fortes valores morais e éticos, gerando filhos conscientes e capazes de agirem sozinhos, reconhecedores de seus esforços para que atinjam algo melhor do que seus pais conseguiram.

Outras, simplesmente, esquecem de educá-lo para o mundo e ao menor traço de sucesso, agarram-se em suas pernas e braços como bóia de salvação em meio a um oceano revolto.

A verdade é que pouco de nossos grandes atletas são preparados para o sucesso atingido, menor ainda é a quantidade de familiares que entendem que tal sucesso, apesar de próximo, lhe é alheio, portanto, não sendo seu.